segunda-feira, 28 de junho de 2010

filme censurado

não sei o que pensar
o problema é que eu também não faço ideia do que você pensa
e por isso não tenho nem um ponto de partida
não tenho nada
mas uma vez me disseram que o nada tudo vira
mas uma vez eu mesmo disse que do nada, nada vem
e então não sei se acredito no que dizem ou no que digo
só sei que, pra mim, você é filme censurado
que já passou

quinta-feira, 24 de junho de 2010

every breath i take

vinha sentindo essa dificildade de respirar já faz um tempo. vinha sendo lentamente sufocado sem saber como nem por que ou por quem. primeiro pensei no cigarro. mas já faz tanto tempo que parei de fumar, querida. fumar tinha sido uma das melhores escolhas da minha vida, nada como um vício para te sustentar quando se está na merda, não? e por estar tão constantemente na merda percebi que fumar me mantinha em pé. mas você desaprovava tanto e me virava a cara quando me via com um cigarro e me negava os lábios diante do gosto de cinzas. então parei. parei e mesmo depois de tanto tempo ainda sinto essa dificuldade pra respirar.
aí eu ouvi uma conversa outro dia em que disseram que a cidade faz mal. ouvi um cara dizer pro outro que na cidade tinha essa tal de poluição, que a fumaça dos carros vem direto pra gente e circula dentro de nós, nos sufocando. e disse também que viver em são paulo era como fumar um maço por dia. e eu que pensava que deixar o cigarro iria me fazer parar de fumar, veja só.
aí resolvi sair. resolvi fugir dessa cidade que nos sufoca. mesmo tendo que largar toda essa minha rotina, que - principalmente depois de parar de fumar - tinha sido nesses tantos anos em que eu a mantive quase como um vício. desses que nos sustentam. joguei tudo pro alto, juntei minhas coisas, poucas. não levei nem a caixa de incenso, porque ela também é do tipo de coisa que faz fumaça.
eu fui pra praia.
e fui pro campo.
e fui pras montanhas e pra floresta e pras savanas e pro deserto.
puta que pariu, visitei todos os ecossistemas desse planeta enorme e não consegui encontrar um cantinho sequer em que eu poderia respirar, assim, pleno e limpo, como um dia respirei. como tenho certeza que um dia respirei, te juro.
e só então quando volto pra essa cidade de merda cheia de cigarros, escapamentos, chaminés, incensos e todo o tipo de coisa que possa ser incendiada, só quando volto então, por um momento, eu consigo respirar, assim, de verdade.
foi bem no momento em que te reencontrei.
aí então eu percebi.
só com teu coração batendo colado no meu peito pra eu parar de sufocar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

mixtape #2

dessa vez não explico nada

01. tal como nazareth - cadáver pega fogo durante o velório
02. ou nada - romulo fróes
03. qualquer coisa - caetano veloso
04. quase nada meu - nekropolis
05. socorro - arnaldo antunes
06. don't be that way - delicatessen
07. miopia - sonantes
08. holding someone's hair back - circa survive
09. dói - cidadão instigado
10. there she goes again - the velvet underground
11. summer 78 - yann tiersen
12. untitled 8 - sigur rós

aprox 49 min
55,1 mb

download

pra mim

quando se pode mais
se for pouco
é pouco demais

domingo, 20 de junho de 2010

so what

...ele então abraça a realidade como quem coloca um travesseiro na cara. tampando os ouvidos e bloqueando a respiração. num desespero solitário, numa tentativa de matar algo dentro de si mesmo. algo que não permite que ele alcance a realidade, a não ser dessa forma sufocante. percebe que talvez se trate do seu pensar incessante, do seu pensar insistente, que vive a dissipar a realidade, reduzí-la em meras interpretações e teorias e vã filosofia.
talvez seja por isso que gosta tanto de música alta. por ser uma forma de se ensurdecer e deixar de ouvir a si mesmo...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

fim-de-mim

você sempre me surge em momentos em que eu esvazio meu pensamento. quando ouço uma música, quando respiro fundo enquanto caminho nas ruas dessa cidade - que a cada dia torna mais difícil essa nossa tarefa de respirar - ou quando paro para admirar algo bonito que passa, pode ser uma moça jovem ou carro velho, cada um com sua beleza. momentos esses em que eu sinto muito mais do que penso. ouço a música e respiro o ar e vejo coisas belas com meus ouvidos, meus pulmões e meus olhos, não faço nada disso com o pensar. e, orgulhoso que é, meu pensamento fica todo sentido por ter sido deixado de lado nesses momentos e então faz com que eu me lembre de você. traz a sua lembrança para me lembrar que a vida é dura, que o que é bom dói e sempre acaba. pra me lembrar que não posso me entregar a esses momentos de plena felicidade de que são feitos o ouvir o respirar e o olhar. pra me lembrar que existe todo um sofrimento que, dizem, nos santificará quando o fim-dos-tempos vier.e eu então finjo que acredito e aceito esse sofrimento, desejando que pelo menos até o fim-dos-tempos chegue o dia em que eu te esquecerei.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

às vezes você me pergunta porque é que eu sou tão calado

tenho medo de falar algo como eu-não-te-amo-mais
e você entender algo como eu-nunca-te-amei
e eu concluir algo como eu-nunca-soube-amar-ninguém

quinta-feira, 3 de junho de 2010

ia-me embora

ia-me embora
mas aqui onde estou
já se parece muito com pasárgada
aqui eu sinto que posso ter tudo
mas mesmo podendo
ter pra mim o mundo
não me encontro em nada
só me encontro nesse abismo
entre a vida e o escapismo

quarta-feira, 2 de junho de 2010

entrar sem bater

 entrar sem bater
e então sair
pura e simplesmente
por medo de ficar