quinta-feira, 24 de junho de 2010

every breath i take

vinha sentindo essa dificildade de respirar já faz um tempo. vinha sendo lentamente sufocado sem saber como nem por que ou por quem. primeiro pensei no cigarro. mas já faz tanto tempo que parei de fumar, querida. fumar tinha sido uma das melhores escolhas da minha vida, nada como um vício para te sustentar quando se está na merda, não? e por estar tão constantemente na merda percebi que fumar me mantinha em pé. mas você desaprovava tanto e me virava a cara quando me via com um cigarro e me negava os lábios diante do gosto de cinzas. então parei. parei e mesmo depois de tanto tempo ainda sinto essa dificuldade pra respirar.
aí eu ouvi uma conversa outro dia em que disseram que a cidade faz mal. ouvi um cara dizer pro outro que na cidade tinha essa tal de poluição, que a fumaça dos carros vem direto pra gente e circula dentro de nós, nos sufocando. e disse também que viver em são paulo era como fumar um maço por dia. e eu que pensava que deixar o cigarro iria me fazer parar de fumar, veja só.
aí resolvi sair. resolvi fugir dessa cidade que nos sufoca. mesmo tendo que largar toda essa minha rotina, que - principalmente depois de parar de fumar - tinha sido nesses tantos anos em que eu a mantive quase como um vício. desses que nos sustentam. joguei tudo pro alto, juntei minhas coisas, poucas. não levei nem a caixa de incenso, porque ela também é do tipo de coisa que faz fumaça.
eu fui pra praia.
e fui pro campo.
e fui pras montanhas e pra floresta e pras savanas e pro deserto.
puta que pariu, visitei todos os ecossistemas desse planeta enorme e não consegui encontrar um cantinho sequer em que eu poderia respirar, assim, pleno e limpo, como um dia respirei. como tenho certeza que um dia respirei, te juro.
e só então quando volto pra essa cidade de merda cheia de cigarros, escapamentos, chaminés, incensos e todo o tipo de coisa que possa ser incendiada, só quando volto então, por um momento, eu consigo respirar, assim, de verdade.
foi bem no momento em que te reencontrei.
aí então eu percebi.
só com teu coração batendo colado no meu peito pra eu parar de sufocar.

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