segunda-feira, 30 de agosto de 2010

eco

outro dia lancei uma pergunta ao abismo e ele me respondeu. do fundo de sua imensidão jogou contra mim as mesmas palavras que eu havia dito, distorcidas por terem saído de seus desconhecidos contornos. os vales e montanhas e um sem fim de formas que habitam esse abismo escuro remoldaram minha pergunta e então a lançaram de volta contra mim. era, porém, a mesma pergunta. penso então que a vida é como esse esfíngico abismo que encarei certo dia. coisa disforme e escura, que só conheço pelo modo que ela distorce aquilo que lanço contra ela. se não a provoco, ela permanece muda; como o abismo ficaria sem a minha pergunta. quieta, a vida não me revela nada. ela nada mais é do que o reflexo daquilo que faço dela - ou, como dizem, vivo. e então, leitor, me perguntas pra que preciso dessa tal de vida, mera imitadora de mim? acontece que, só quando lancei minha pergunta ao abismo e dele recebi de volta as mesmas palavras, comecei a pensar na resposta.

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