sábado, 19 de dezembro de 2009

Cresceu

Olha para as paredes do seu quarto e não sabe o que pensar. Tudo o que vê parece tão novo que nem parece que ele já está ali faz tempo. Parece que alguém diferente se mudou pra lá e mudou tudo junto com ele. Às vezes sente que tudo que é hoje aprendeu a ser em algumas poucas horas. Sem o espanto de uma surpresa, parece que se apresentou a ele mesmo pronto - não pronto, no seu sentido mais caduco, mas do jeito que é, agora - e tivesse se aceitado assim, naturalmente. Quando lembra do seu passado mais remoto não se reconhece. Tudo o que fala, vê, pensa, toca, sente não combinam muito bem com aquele guri com medo do mundo que ele lembra ter sido. Não que não exista mais medo, mas dessa vez ele vem junto com a coragem de enfrentá-lo. Uma coragem às vezes tímida, mas que pouco a pouco dá as caras, tornando-o diferente daquele rapaz que foi. Quando ainda não era muita coisa. Dele, guarda a curiosidade, a insatisfação com tudo e a teimosia de sempre. Na verdade, as qualidades - e defeitos - são as mesmas, só que agora mais seguras e conscientes de si mesmas. Se antesera um garoto chato, hoje é chato refinado, desses candidatos a ser o chato favorito de algumas pessoas, daquele jeito como Mário Quintana descrevia seus amigos. Amigos esses que, diferente de antes, parecem-se mais com ele. Ou será que ele é que foi se parecendo cada vez mais com eles? Essa semelhança crescente talvez consiga ferir aquele sentimento de que somos únicos, mas também faz com que possamos nos sentir parte de algo maior, nos tornando menos sozinhos. Menos monstros. E isso é bom.

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