quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Furtacor

Por alguma vontade oculta e superior da Natureza, por algo pregado na gente desde o início dos tempos, seja ele o Éden ou o aparecimento de um monolito capaz de despertar consciência em um primata ou qualquer evento inexplicável da sua preferência, estamos fadados a ver o mundo - e em especial as pessoas - através de suas representações, daquilo que nos é mostrado. Há também, claro, o efeito da nossa imaginação sobre essas imagens, mas mesmo o trabalho da mente mais criativa depende do negativo bruto, da nudez da pedra de mármore a ser trabalhada. A imaginação é na verdade mais importante do que o que nos é dado por nossos - esperançosamente confiáveis- sentidos, seria triste demais se as coisas fossem exatamente - e tão somente - aquilo que parecem ser. Por mais rica em cores e formas e texturas que venham a ser nossas almas... bem, exatamente por termos almas ricas em cores e formas e texturas, nunca sabemos com que roupa vesti-las. Dependemos sempre da iluminação provida pelo céu a cada dia. É preciso combinar com as cores de cada paisagem. É preciso, também, nos ajustar à lente dos olhos de quem nos vê para quem sabe enfim deixar nossa alma nítida em seu peito e nossa marca em sua memória.
Quem sabe talvez se o mundo se apagasse num breu e pudéssemos nos aproximar independente dos sorrisos ou dores ou espinhos que vestimos seria como num baile de máscaras. Assim eu seria da maneira que você me quer, seja você quem for, seja o que Deus quiser. Até lá, me diz o que eu faço com essa falta de vontade de querer enxergar aquilo que você me mostra.

PS: "No escuro as coisas esquecem de si mesmas para se tornarem apenas coisas" Caio Fernando Abreu

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