sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quase um pássaro

"Venha meu amigo
Deixa esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes
Antes de pensar"
Chico Buarque


Quase um pássaro, sabiá que se recusa a cantar em sua primeira primavera. Por timidez ou medo ou esquecimento. Convenceu-se ou foi convencido de que não se deve dar liberdade às asas e voar. Como poderia? A queda seria muito dura e seu corpo leve jamais suportaria, seu coração delicado de passarinho não sobreviveria ao susto.
Vive assim, nunca muito longe do ninho, rendendo-se talvez a algumas aventuras esporádicas, mas nada nunca ousado. Nunca nada como voar. Voar é perigoso demais, aceitava isso como quem acorda de um sonho bom antes mesmo de fechar os olhos, por medo de ter pesadelos.
Os outros passarinhos viviam a cantar coisas belas, lembranças costuradas com a brisa que acariciou suas penas em seus voos de árvore em árvore. Lembranças tão lindas, tão incríveis, às vezes, sim, sisnistras, mas sempre fascinantes. Sempre vindas das alturas mais inimagináveis para aqueles que nunca voaram.
Pois, quando se é um passarinho, é um desperdício viver com os pés no chão.

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