terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Saudade é um pouco como fome

Tenho saudades daquilo que ainda não conheci
Tenho abstinência da droga que ainda não usei
Sofro pelo amor que eu ainda não encontrei

E como impõe o fino andar da vida, fez-se mais uma separação, pois a lei natural dos encontros vem sempre acompanhada da dos desencontros, que é tão natural quanto a primeira, que é tão natural quanto qualquer outra coisa na vida, por fazerem parte dela. Mas, por mais mundanos que sejam os desencontros, nem todos nós estamos acostumados a eles. Outro dia flagrei gente se desencontrando e disseram, pasmem, vou-sentir-saudades. Pobres, se soubessem um pouco mais das naturalidades da vida saberiam que saudades não se deixam ser previstas. Nunca se flagraram, pois, sentindo uma falta imensa do barulho-insuportável-de-são-paulo? Ou nunca se surpreenderam quando não sentiram nenhuma ligeireza no coração (sabe?) diante da lembrança de alguém que já foi muito-especial-na-minha-vida? Esquecem-se de lembrar (que clichezinho mais barato) de que lembranças não são sinônimo de saudades. Pobres coitados, que vivem da saudade da saudade que sabem que nunca sentiram(ão).

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." Clarice Lispector

1 comentários:

Rouxinol disse...

Saudades se deixam ser previstas quando têm-se consciência de que o que se deixa é essencial para que a alma fique em paz.

Postar um comentário