quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aglomerada solidão



"É que eu to sozinho a tanto tempo que eu esqueci o que é verdade e o que é mentira em volta de mim" - Cazuza

Peixes fora d'água. É isso que somos, todos nós. Só e tudo isso.
Alguns mais outros menos adaptados à vida na superfície, essa superfície de ar transparente e rarefeito. É tão diferente da opacidade do fundo de um oceano.
Lutamos para nos acostumar, cada um fingindo fazer naturalmente parte de tudo isso. Tentando não se debater, disfarçando cada espasmo.
Ah, como é difícil respirar aqui fora. Cada vez que tragamos esse ar, desce tão estranho, queimando a garganta, queima sempre, não importa se já se tornou um hábito de anos, essa coisa de hábito não existe. Ninguém se acostuma a respirar.
Ando pelas ruas e vejo histórias: pobres, moças, santos, loucos, viúvas, putas, ditadores, sadomasoquistas, poetas, imperadores, assassinos e napoleões. Todos desesperados, sempre. Desesperados pela garota ao lado, pela conta não paga, pelo último cigarro, paz mundial, mal orgasmo, calo doído, meia molhada, bolsa de valores, bomba atômica, chá de cozinha. É tudo desespero.
Todos sozinhos, cada um com um mar de distância do outro. Aquele mesmo mar daonde foram tirados. E ,por isso, toda mínima insinuação de interação com outro, um alguém qualquer, desperta as maiores das esperanças. Um sorriso convidativo depois daquela troca rápida de olhares, aqueles olhares que revelam, em uma fração de segundo, que aquela outra pessoa é igualzinha a você. A cortesia, o por favor, o obrigado, o com licença, o não-tem-de-quê. Tudo parece uma tentativa desesperada de talvez se encontrar em outro, de voltar a sentir aquela sensação, daquele lugar de onde todos foram retirados, aquela sensação que ninguém nem sabe se um dia sentiu. O últero materno? Não sei, Freud explica, ou tenta.
Todos nós tentamos.

1 comentários:

Unknown disse...

Melancólica e absoluta verdade.

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