domingo, 8 de novembro de 2009

A Última

Ela só pensava nele, em quando ele ia agir, como ele ia agir. Pensava isso há tanto tempo que passou também a pensar se ele chegaria mesmo a fazer alguma coisa. Ele só pensava em fumar mais um cigarro, mais uma cerveja, em tecer comentários sobra as pessoas em volta e em despentear o cabelo com uma mão como ele sempre fazia, quando não sabia mais o que fazer. E, por pensar em tudo isso, não é que não pensava nela. Fazia tudo isso para chamar a atenção dela, fazer alguma pose de algo que não era exatamente ele, porque talvez se comportar de modo diferente seja um jeito de fazê-la pensar nele. Ele só pensava nela, em quando ele ia agir, como ele ia agir. Pensava isso há tanto tempo que passou também a pensar se ele teria coragem para fazer alguma coisa. E estava claro que ela queria que ele fizesse algo, ele sabia perfeitamente disso. Não que ela estivesse fazendo tipo, jogando o cabelo por trás dos ombros, mordendo os lábios, ou qualquer coisa dessas que garotas fazem quando estão interessadas em alguém. Ele simplesmente sabia que ela queria algo, pelo simples fato da presença dela naquele lugar. Em volta, sofás rasgados, garrafas vazias esquecidas, maços vazios esquecidos, pessoas vazias esquecidas. Não era o tipo de lugar que ela frequentaria, a não ser que estivesse interessada nele.
- Nossa, o que esse cara pensou pra se vestir assim?
- Ha, realmente, faltou um pouco de bom senso.
Nessa conversa ela não estava interessada. Nessa conversa ele não estava interessado. Sabia que a falta de bom senso estava em não tomar atitude, e ele havia prometido a si mesmo que faria alguma coisa. Sempre depois de só mais uma música, sempre depois de só mais uma cerveja, sempre depois de mais só mais um cigarro. E assim foi, até o sempre se esvair. Nunca depois de todas aquelas músicas, nunca depois de todas aquelas cervejas, nunca depois de todos aqueles cigarros.
Estavam tão impacientes que não conseguiam mais conversar, acabaram os comentários a se fazer. Aquilo tudo era tão triste, eram duas pessoas que mereciam se ter. Tinham tanto pra ensinar um pro outro, tantas viagens, tantos mundos a compartilhar. Eram tão feitos para si que todos os deuses, santos, anjos e orixás conspiravam a favor dos dois. Essa conspiração era tão grande que ficava entre eles. Como uma montanha imensa de responsabilidade de fazer aquele encontro dar certo. Ele não conseguia agir e ela não aguentava mais esperar. Ele juntou toda sua a coragem, o pouco atrofiado que sobrou depois de tantas horasde um fracasso silencioso. Juntou tudo.
E ele só conseguiu olhar, um olhar tão desesperado, um olhar tão sincero, um olhar tão doloridamente apaixonado que ela entendeu imediatamente.
Silêncio.
- O que?
- Vem cá.
E foram.

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